No princípio era o verbo. Um verbo estático, imodificável. Hoje, ele é ágil e não precisa ser recebido como vem: a Web 2.0 democratizou a produção do conhecimento. Se o próprio surgimento da internet facilitou o acesso à informação, a possibilidade de o usuário criar conteúdo com base em seus interesses e experiências e compartilhá-los com outros muda radicalmente o paradigma de propriedade da informação.
Apesar de toda a transformação no mundo online permitida por ela, é preciso lembrar que o termo "Web 2.0" não implica o surgimento de uma nova internet. No último dia 13, o mundo comemorou os 20 de criação da rede mundial de computadores, que é sem dúvida a maior invenção tecnológica da últimas décadas. O termo que diferencia a versão avançada da web, fazendo alusão aos carros de maior potência, diz respeito ao uso de novas ferramentas que promovem a interatividade do usuário.
A partir de 2004, quando foi cunhado o termo, espalharam-se pela net programas como gmail, blogger e google maps, todos baseados na contribuição do usuário. A primeira inquietação que veio na esteira dessa nova onda de aplicativos foi que o fato de os geradores de conteúdo não serem especialistas poderia promover inúmeros erros de conteúdo. Surpreendentemente, chama a atenção a grande credibilidade adquirida por sites como o Wikipedia, aplicativo que talvez melhor ilustre o conceito de colaboração online, em que verbetes com sua devida explicação podem ser criados e editados.
Comercialmente, a construção de softwares foi grandemente impactada pela mudança de conceituação do usuário, de receptor para criador de conteúdo. Mais do que uma ferramenta, o usuário de internet está hoje em busca de uma experiência, veloz, eficiente e relacional. Ninguém mais quer dialogar com um clips no canto da tela...
Dessa forma, os produtos e serviços online tiveram de abandonar o pensamento único da maximização do lucro para abarcar a autonomia do usuário. E esse, completando o círculo, é o único caminho de ser rentável no mercado online.
Quando um site entende e agrada o seu público, consegue-se que o usuário permaneça um tempo maior nele do que normalmente ficaria. E esse é o grande segredo, já que eleva a oportunidade de lucro publicitário. E a utilização constante e prolongada permite ainda conhecer os hábitos de pensamento e consumo do usuário – um grande trunfo comercial.
Esse novo tipo de relacionamento com o conteúdo está influenciando ainda outros fóruns de
produção de conhecimento. A escola, normalmente engessada em seu formato de funcionamento, está correndo atrás do uso inteligente e pedagogicamente eficaz da interação e produção do conhecimento. Infelizmente, a exposição de crianças e adolescentes em redes de relacionamento como o orkut também traz o risco da utilização das informações em crimes.
Até mesmo o Vaticano, que se baseia em doutrinas seculares e pensa muitas vezes antes de mudar uma opinião, reconheceu o valor da colaboração online. Nesta semana, o papa Bento XVI publicou artigo em que que diz: “Me disseram que consultar a informação disponível na internet teria tornado possível perceber o problema mais cedo”, disse, referindo-se ao perdão concedido a bispos que negaram a gravidade do Holocausto. “Aprendi a lição de que, no futuro da Santa Sé teremos de prestar mais atenção a essa fonte de notícias.”
O usuário moderno precisa mais do que nunca se disciplinar para buscar informações relevantes e de alta credibilidade, não atribuindo a todo texto ou imagem disponível na internet o mesmo valor. E como fica o papel do jornalista na provisão de conteúdo nessa miríade de blogs, fóruns, redes de relacionamento? Esse certamente será o tema de nossas próximas conversas.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário